quem somos
A Coletiva reclama-se do feminismo anticapitalista. Somos feministas porque nos batemos pela igualdade. Somos feministas porque não aceitamos que a diferença seja entendida como inferioridade, pois entendemos que ela é força. E somos feministas anticapitalistas porque sabemos que a igualdade não é possível num sistema de dominação, violência e exploração. Não nos basta a igualdade de género, porque o que queremos é superar o sistema que produz as desigualdades.
Sabemos que todas partilhamos uma história de subordinação comum, mas também sabemos que pelo facto de partilharmos uma mesma sujeição não somos iguais entre nós. O que determina o nosso lugar nas relações sociais e de poder não é apenas o género com que nos identificamos, mas a nossa origem de classe, as escolhas que fazemos sobre a nossa sexualidade, a nossa pertença étnico-cultural, a nossa diversidade funcional, os territórios que habitamos, as fronteiras que transpomos. Por isso somos do feminismo intersecional, porque articulamos género, classe e “raça”. Todavia, somos da intersecionalidade crítica, porque não nos basta ler a realidade com as várias lentes, se isso não servir para a transformarmos, já que a solidariedade entre as lutas é insuficiente, se dessa articulação não emergir um novo sujeito político capaz de transformar e de romper todas as correntes que constrangem a nossa liberdade.
Somos transfeministas porque não aceitamos que o género que nos é atribuído à nascença determine as nossas vidas e as nossas identidades. Para nós, o corpo é território de liberdade, não de aprisionamento. E o corpo como liberdade reclama o direito à autodeterminação, à autoidentidade e à autorrepresentação.
O direito ao corpo é um direito que reclamamos, seja para defender o direito ao aborto a pedido da mulher, o combate à violência obstétrica e a centralidade da educação sexual na formação das pessoas, seja para defender o reconhecimento do trabalho sexual e os direitos e proteção social de quem o exerce.
Somos ecofeministas porque partilhamos o planeta com outros seres, porque, por sermos humanas, somos natureza. Reconhecemo-nos ecodependentes e sabemos que os bens naturais não são ilimitados.
Conscientes das desigualdades no uso destes bens e dos territórios, entendemos que grandes conflitos nascem do extrativismo e da expropriação e produzem migração e busca de refúgio. As ameaças ecológicas crescentes e globais agudizam os cuidados em intensidade e urgência, em sobrevivência, por isso, reclamamos o cuidar como responsabilidade de seres interdependentes. Pela emergência ecológica, reclamamos justiça ambiental.
Somos hetero, somos lésbicas, somos trans, somos bi, somos cis, somos tudo aquilo que o prazer consentido e a autorrepresentação nos permite explorar. Somos brancas, somos negras, somos ciganas, somos invisíveis, somos diversas, cada qual com sua história, todas juntas na luta toda. Somos portuguesas, somos brasileiras, somos angolanas, somos de todos os lugares, porque para nós não há fronteiras. Somos altas, somos baixas, somos gordas, somos magras, somos de todos os feitios que é possível imaginar. Somos doutoras, somos estudantes, somos operárias, somos precárias, somos trabalhadoras sexuais, somos desempregadas, somos reformadas, somos cuidadoras, mas não somos resignadas. Somos do norte e do sul, do litoral e do interior, somos de todos os cantos do país, porque onde houver desigualdade uma feminista se levantará. Somos tu e eu, somos nós. Somos todas juntas a fazer a luta toda. Somos A Coletiva.
de onde vimos
Parar o Machismo, Construir a Igualdade foi a plataforma que criámos em dezembro de 2016, com o objetivo de juntar ativistas feministas para responder ao apelo internacional Women’s March, de 21 de janeiro de 2017, que foi a resposta das ruas ao então recém-empossado Donald Trump e sua Administração. Foi uma iniciativa bem-sucedida, que aconteceu no final da campanha sobre assédio sexual no espaço público - Se não me conheces não me chames querida! - que organizámos e teve expressão em seis cidades do país. O Manifesto que a convocou foi subscrito por diversas associações e coletivos feministas, mas também por grupos do ativismo antirracista, antifascista, de defesa das pessoas refugiadas, migrantes e em situação de sem-abrigo, ecologistas e pela justiça climática, contra a precariedade no trabalho, pelo reconhecimento da diversidade das identidades de género e orientação sexual, entre outros, construindo e dando corpo à intersecionalidade das lutas.
Ao longo de 2017, construímos intervenção feminista, contribuindo para a afirmação do movimento feminista. Nunca estivemos sozinhas, porque as iniciativas que promovemos foram abertas e participadas. Construímos solidariedades, participando na convocação e dinamização das manifestações Mexeu com uma, mexeu com todas, que denunciou a cultura da violação, e Machismo não é justiça, é crime, que pôs a nu a misoginia e o conservadorismo incrustados nos tribunais portugueses.
Em 2018, fomos um dos coletivos que convocou a Marcha e a Greve Feminista Internacional, que teve expressão no Porto e em Lisboa. Convocámos e fomos parte da organização do Encontro de Mulheres Todas as Vozes Contam, onde debatemos os temas que coletivamente decidimos de forma horizontal e entre mulheres, como forma de capacitação feminista e de multiplicação dos lugares de fala.
Desde que nascemos, procuramos responder aos apelos e iniciativas de outros coletivos feministas, mas não apenas. Somos solidárias com as trabalhadoras e os trabalhadores sexuais e com o movimento LGBTQI+, sendo parte da organização e dinamização das Marchas do Orgulho.
Fruto de toda essa experiência, de sermos mais e mais diversas, de termos expressão em vários territórios do país, em abril de 2018, decidimo-nos por um recomeço. Para o marcar, mudámos de nome. Passámos a ser A Coletiva, por acharmos que este nome espelha o nosso processo de crescimento e de aprendizagem umas com as outras.
Já como A Coletiva, fomos parte da Greve Feminista Internacional (2019), contribuindo para a construção de uma rede feminista nacional e para a articulação feminista internacional. Como grevistas, desafiámos as estruturas sindicais e partidárias a repensarem o conceito trabalho, para que este inclua o trabalho doméstico e dos cuidados.
Convocámos, dinamizámos e colaborámos em diversas iniciativas. Saímos à rua no 25 de Abril e no 1.º de Maio, participámos em iniciativas pelo direito à habitação, pela justiça climática, contra as praxes académicas. Ocupámos as ruas exigindo justiça para Marielle Franco e denunciando a violência e a justiça machistas.
para onde vamos
A Coletiva cresceu e tornou-se referência, em resultado das posições que tomámos, das iniciativas que organizámos, da forma como participámos nas frentes unitárias. Começámos por ser um coletivo sediado no Porto com articulações noutras cidades do norte do país. Crescemos. Um conjunto de companheiras decidiu que era hora de dinamizar o feminismo anticapitalista em Lisboa e decidiu fazê-lo como A Coletiva.
Aqui estamos, todas juntas a lutar em várias frentes, unidas pela solidariedade e pela certeza de que juntas somos mais fortes.