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Alô Alô... Unidas Venceremos | O testemunho de uma trabalhadora de call center

Testemunho de Raquel Azevedo

Trabalho no call center da Armatis Lc no Porto e, no dia 23 Março (segunda-feira), as trabalhadoras decidiram fazer como em França: parar a produção, reivindicando, assim, as condições de segurança e higiene que a empresa ainda não tinha, e não tem, asseguradas. Além da falta de condições, não nos davam nenhuma resposta quanto à possibilidade de teletrabalho, que é totalmente adaptado ao nosso setor, e já generalizado em França em todos os call centers.


Às 10 horas da manhã parámos todas e colocámo-nos em pausa como forma de contestar todas estas situações, recebendo de imediato ameaças da parte da Direcção de nos enviar para casa com falta injustificada e perdendo, assim, o direito aos prémios do nosso vencimento.


Fizemos denúncia à PSP que, segundo o decreto de lei para o estado de emergência, é a autoridade que as trabalhadoras devem chamar quando não se sentem em segurança.

À chegada, os polícias recusaram-se a entrar no local, ficando à porta e abordando as trabalhadoras com ironia: “Qual foi o crime aqui? Houve um homicídio?” Depois de explicada a situação e o incumprimento das indicações da DGS, os agentes de autoridade mantiveram o tom: "A minha filha também trabalha assim", "Vê o que diz aqui? PSP. Nós não somos a ACT, nem os delegados de saúde". "Chamem o responsável do call center porque nós não vamos entrar”. Basicamente os agentes de autoridade recusaram-se a actuar nesta situação, permitindo que a empresa pudesse continuar a laborar naquelas condições.


Depois desta situação, algumas de nós acabaram por ser recebidas pela Direcção, que, mais uma vez, afirmou estar a tratar da logística que nos permitirá entrar em teletrabalho, dizendo não saber quando tal será posto em prática e acrescentando que iria melhorar as condições de trabalho e segurança. A empresa mantém a maioria das trabalhadoras a trabalhar sem condições de segurança, pois o espaço entre nós não é o suficiente para permitir o distanciamento social obrigatório, colocando colegas com problemas respiratórios e com outras doenças em risco e à mercê da sua sorte.


Dia 25 de Março, eu e as minhas colegas de trabalho vivemos momentos difíceis, mas também uma luta intensa. O call center onde trabalhamos continua com 100% de actividade, não tendo adoptado medidas para o combate à Covid-19. Na segunda-feira, dia 23 de Março, percebemos estar a ser abandonadas pela Direcção, que está em casa em teletrabalho; chamámos a polícia para reportar a nossa situação complicada e a falta de condições e de segurança. Os agentes recusaram-se a actuar e demonstraram desprezo pelas trabalhadoras. Dia 24 de Março, confirmam-se dois casos de infecção no 3º piso da empresa, facto que comunicámos à Protecção Civil do Porto e à linha SNS24. A PSP voltou no final do dia 25 de Março, reportando a situação quer à ACT, quer à DGS.


A empresa, perante a confirmação dos dois casos positivos para a Covid-19, continuou a não tomar as medidas necessárias para nos proteger e, apenas no dia 26 de Março, com a nossa revolta crescente, fechou o piso onde trabalhavam as pessoas portadoras do vírus e mandou as restantes trabalhadoras para casa em teletrabalho.


Porém, no piso 5 continuou-se a trabalhar até sábado passado, dia 28 de Março, sem qualquer segurança e até recebermos a notícia de mais dois casos positivos para a Covid-19, agora também neste piso. As trabalhadoras restantes receberam, durante o fim de semana, a comunicação para não se apresentarem na empresa para trabalhar e que seriam contactadas para entrarem em teletrabalho. Mesmo assim houve colegas deste mesmo piso, mas de clientes diferentes, que foram obrigadas a comparecer no local de trabalho no dia 30 de Março. Como sempre unidas, recusaram-se a trabalhar e acabaram por ser mandadas para casa.


Assim, aos trinta dias do mês de março, a Armatis Lc - depois de muita luta pela parte das trabalhadoras - vê-se finalmente obrigada a fechar portas e garantir o que é justo e correcto para todas as trabalhadoras. Depois de dias intensos e de muita luta, unidas, conseguimos justiça e segurança nas nossas vidas e no nosso trabalho.


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